Por isso...

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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A praga moderna

Nesta semana fui novamente na Biblioteca Pública com o Gabriel e lá, peguei uma revista VEJA e me deparei com uma reportagem que me tocou fundo.
Há tempos quero escrever um post sobre stress, mas eu não saberia descrevê-lo melhor do que a Lya Luft. Então caros amigos, nunca é tarde para refletirmos sobre os males desta praga moderna, como ela mesma descreve. Peço desculpas se esta matéria não for novidade para quem já a leu, mas é porque não, ler de novo?
"O que somos mesmo, neste período pós-moderno
de que algumas pessoas tanto se orgulham, é estressados"

Nossas pestes – que também as temos – podem ser menos tenebrosas do que as medievais, que nos faziam apodrecer em vida. Mas, mesmo mais higiênicas, destroem. E se multiplicam, na medida em que se multiplica o nosso stress. Ou melhor: o stress é uma das modernas pragas. Quanto mais naturebas estamos, mais longe da mãe natureza, que por sua vez reclama e esperneia: tsunamis, tempestades, derretimento de geleiras, clima destrambelhado. Ser natural passou a não ser natural. Ser natural está em grave crise.
O bom mesmo é ser virtual – mas isso é assunto para outra coluna, ou várias. Porque, se de um lado somos cada vez mais cibernéticos e virtuais, de outro cultivamos amores vampirescos, paixões por lobisomens, e somos fãs de simpáticos bruxos em revoadas de vassouras. Mudaram, os nossos ídolos. Não sei se para pior, mas certamente para bem interessantes. Pois nosso lado contraditório é que nos torna interessantes, em consultórios de psiquiatras, em textos de ficcionistas. Também na vida cotidiana aquela velhíssima voz do instinto, voz das nossas entranhas, deixou de funcionar. Ou funciona mal. Desafina, resmunga, rosna. A gente não escuta muita coisa quando, por acaso ou num esforço heroico, consegue parar, calar a boca, as aflições e a barulheira ao redor.
O que somos mesmo, neste período pós-moderno de que algumas pessoas tanto se orgulham, é estressados. Não tem doença em que algum médico ou psiquiatra não sentencie, depois de recitar os enigmáticos termos médicos: "E tem também o stress". Para alguns, ele é, aliás, a raiz de todos os males. Eu digo que é filho da nossa agitação obsessivo-compulsiva. Quanto mais compromissados, mais estressados: é inevitável, pois as duas coisas andam juntas, gêmeas siamesas da desgraça. Porque a gente trabalha demais, se cobra demais e nos cobram demais, porque a gente não tem hora, não tem tempo, não tem graça. Outro dia alguém me disse: "Dona, eu não tenho nem o tempo de uma risada". Aquilo ficou em mim, faquinha cravada no peito.
Um dos nossos mais detestáveis clichês é: "Não tenho tempo". O que antes era coisa de maridos e de pais mortos de cansaço e sem cabeça nem para lembrar data de aniversário dos filhos (ou da mãe deles), agora também é privilégio de mulher. De eficientes faxineiras a competentíssimas executivas, passamos de nervosas a estressadas, stress daqueles de fazer cair cabelo aos tufos.
Não sei se calvície feminina vai ser um dos preços dessa nossa entrada a todo o vapor no mercado de trabalho – pois ainda temos a casa, o marido, os filhos, a creche, o pediatra, o ortodontista, a aula de dança ou de judô dos meninos, de inglês ou de mandarim (que acho o máximo, "meu filhinho de 6 anos estuda mandarim") –, mas a verdade é que o stress nos domina. É nosso novo amante, novo rival da família e da curtição de todas as boas coisas da vida.
Que pena. Houve uma época em que a gente resolvia, meio às escondidas, dar uma descansadinha: 4 da tarde, a gente deitada no sofá por dez minutos, pernas pra cima... e eis que, no umbral da porta, mãos na cintura ou dedo em riste, lá apareciam nossa mãe, avós, tias, dizendo com olhos arregalados: "Como??? Quatro da tarde e você aí, de pernas pra cima, sem fazer nada?".
Era preciso alguma energia para espantar os tais fantasmas. Neste momento, porém, eles nem precisam agir: todos nós, homens e mulheres, botamos nos ombros cruzes de vários tamanhos, com prego ou sem prego, com ou sem coroa de espinhos. São tantos os monstros, deveres, trânsito, supermercado, dívidas e pressões, que – loucura das loucuras – começamos a esquecer nossos bebês no carro. Saímos para trabalhar e, quando voltamos, horas depois, lá está a tragédia das tragédias, o fim da nossa vida: a criança, vítima não do calor, dos vidros fechados, mas do nosso stress. Começo a ficar com medo, não do destino, eterno culpado, não da vida nem dos deuses, mas disso que, robotizados, estamos fazendo a nós mesmos.
Lya Luft

Vamos desacelerar minha gente, vamos ter mais tempo para nossa família,
vamos ter mais tempo para NÓS mesmos!!!
Beijinhos carinhosos!!!!

6 comentários:

Tati disse...

Não tinha lido a matéria ainda...boa mesmo!
eu por muitas vezes queria virar uma "jeca", riponga...sei lá! tem vezes que temos que parar e perguntar pelo que realmente vale correr, se estressar...
bjs, bjs!

Daya disse...

ai, ai...nem sei o que dizer, a não ser que o texto disse tudo!!!! A Lya é realmente muito boa no que faz, traduzir a realidade em palavras!!!
Brigada Carlinha por nos trazer este texto.
bjkas

Jeanne disse...

Passei correndo pra deixar um beijo....faz tempo q não consigo ler o blog, mas vcs estão no meu coração!

Carla disse...

oi meninas, a gente fica sem palavras mesmo em refletir que isso tudo é "normal" em nossa vida, mas vamos respirar fundo e repensar algumas estratégias de sobrevivência!!!!!
beijocas millllllllllllllllll

Lulu disse...

Carlinha, adorei o artigo... É bem isso mesmo: estamos correndo tanto que falta atenção ao que fazemos. Tudo no automático e nada feito com zelo.
Valeu!

Dani Brito disse...

Vou fazer coro às meninas: adorei o artigo.

Mas ó, a expressão "robotizados", que ela bem usa no texto, diz tudo. E como todo mundo quer estar em sintonia com o ditame do momento: estamos todos sem tempo, completamente estressados!